Harold (Bud Cort) é um jovem que adora simular suicídios para atormentar a mãe; Maude (Ruth Gordon) é uma mulher de 79 anos que, como Harold, frequenta enterros, mas é cheia de vida e ignora as regras e convenções da sociedade. Quando estas duas pessoas tão diferentes se conhecem, é o início de um relacionamento que mudará a vida de Harold, que vai literalmente aprender a viver.
Com os suicídios simulados, Harold tenta chamar a atenção da mãe, uma rica viúva cujas preocupações são os eventos sociais e “encaminhar” o filho na vida, seja para a carreira militar (como o tio) ou no casamento com uma das candidatas que lhe apresenta. A única vez que a mãe teve alguma reação foi quando pensou que ele havia morrido na explosão do laboratório de química da escola, e por isso Harold tenta despertar essa reação novamente, como uma criança que quer chamar atenção – qualquer tipo de atenção.
A condessa Mathilda (no livro, ou Marjorie, no filme) Chardin, ou simplesmente Maude, já teve sua cota de perdas e sofrimento. Em vez de lamentar o passado, Maude vive intensamente a cada dia e aprecia a natureza, as pessoas, as mudanças e transformações. Como dizia um sábio persa que ela cita, “isto também passará”; não adianta se apegar a situações, coisas ou momentos: tudo é transitório.
Com essa filosofia e alegria de viver, Maude mostra ao entediado Harold que a vida é um bem precioso, que cada pessoa é única e tem suas qualidades e defeitos, que as distinguem das demais. E mesmo assim, temos que crescer juntos. Construir pontes, e não muros.
“Então decidi”, ele afirmou solenemente, “que gostava de estar morto”.
Maude ficou quieta por um instante. Então falou calmamente.
“Sim, compreendo. Muitas pessoas gostam de estar mortas. Mas elas não estão mortas na verdade. Estão apenas fugindo da vida. Eles são jogadores, mas pensam que a vida é um treino e ficam se poupando para mais tarde. Então sentam no banco e o único campeonato que verão passa diante de seus olhos. O tempo está acabando, e eles podem entrar a qualquer momento”.
Maude pulou, gritando palavras de incentivo. “Vamos, rapazes! Vamos lá, arrisquem-se! Até se machuquem, quem sabe? Mas joguem o melhor que puderem”. Como se liderasse uma torcida no estádio lotado, ela gritou, “Vai time! Me dê um V. Me dê um I. Me dê um D. Me dê um A. V-I-D-A. VIDA!”
Ela sentou-se ao lado de Harold, muito elegante e séria. “Senão,” informou, “você não terá nada para comentar no vestiário”.
Maude me lembrou Rose, depois do Titanic. Ambas perderam tudo e tiveram de começar do zero (coincidentemente, na América). E as duas decidiram viver a vida plenamente, viver o máximo de experiências que pudessem, desfrutar o aqui e o agora. Outro ponto em comum é quando Maude joga ao mar o presente que recebeu de Harold, pois “agora eu sempre saberei onde ele está”. Parece familiar?
“Maude”, ele disse, “você está chorando”.
Maude segurou o passaporte. “Estava lembrando o quanto isto significava para mim”, disse lentamente. “Foi depois da guerra; eu não tinha nada – a não ser minha vida. Como eu era diferente naquela época; e ainda assim, como eu era a mesma pessoa.”
Harold estava perplexo. “Mas… você nunca chorou antes. Nunca pensei que você chorasse. Pensei que estivesse sempre alegre”.
“Oh, Harold”. Ela suspirou, puxando o cabelo. “Você é tão jovem. O que eles lhe ensinaram?” Ela enxugou as lágrimas que caíam pelo rosto. “Sim, eu choro. Choro por você. Choro por isto. Choro pela beleza, seja um pôr-do-sol ou uma gaivota. Choro quando um homem tortura seu irmão… quando ele se arrepende e implora pelo perdão… quando esse perdão é recusado… e quando é concedido. Alguém ri. Alguém chora. Duas características exclusivamente humanas. E a principal coisa na vida, meu querido Harold, é não ter medo de ser humano”.
Harold piscou para afastar as lágrimas nos olhos. Ele tinha um nó na garganta; então engoliu em seco. Afastando-se, tomou a mão dela nas suas. Então, tocando gentilmente sua face, enxugou as lágrimas dela.”
Esta comédia de humor negro de 1971 foi dirigida por Hal Ashby (Shampoo, Amargo regresso, Muito além do jardim) e escrita por Colin Higgins, que após o lançamento do filme transformou o roteiro em romance (disponível no Scribd, e uma leitura bem gostosa). Higgins dirigiu Golpe Sujo e Como eliminar seu chefe, e escreveu o roteiro destes dois filmes, além de Ensina-me a viver, A melhor casa suspeita do Texas e a minissérie Minhas Vidas, em parceria com Shirley MacLaine. A trilha sonora do filme tem músicas de Cat Stevens.
Mesmo que em geral a tradução dos títulos de filmes seja lamentável, desta vez acertaram: Ensina-me a viver é um bom título e dá a dimensão do que seja esta história. Comovente e divertida, nos faz pensar no que significa viver, e em como nossos problemas são insignificantes comparados ao grande cenário. Harold percebe isso quando nota a tatuagem no antebraço de Maude; quem tem aqueles números não despreza o privilégio de estar vivo.
Ensina-me a viver também foi levada aos palcos brasileiros por Glória Menezes e Arlindo Lopes, e deve ter sido uma experiência e tanto. Confira se a peça ainda está em cartaz em SP (previsto até 27/03/11 no Teatro das Artes) e não perca!
(tradução de trechos do livro – Cristine Martin)
* * *
- Página do filme no IMDb
- Harold and Maude na Wikipedia
- Harold and Maude Homepage – página não oficial do filme (com o roteiro para download)
- Livro no Scribd para leitura online (em inglês)
- Crítica da peça de teatro Ensina-me a viver – The Best Blog
Trailer – Harold and Maude
httpv://www.youtube.com/watch?v=GHgJZCOBNlk